sexta-feira, 25 de junho de 2010

Auto- Dialógo...



Inconsciente,
Seu irracional,
Como podereis transformar pensamentos em auto-sugestão
E nos fazer acreditar que ele existe no mundo externo ?!

Consciente,
Seu omisso,
Deixas o inconsciente tomar as decisões ?!

Faça-o acreditar que na verdade quando pensas não estás auto-sugestionando.

Assim vivereis harmoniosamente
interna e externamente...

terça-feira, 15 de junho de 2010

A solidão amiga – Rubens Alves





A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão… O que mais você deseja é não estar em solidão…

Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música… Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa… Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão… A noite estava perdida.

Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, “parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis“. A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: “Como se comporta a Sua Solidão?“ Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.

Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.“ Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.

Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga… Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim:

“Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.!“


Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que “o inferno é o outro.“ Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia… Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:

“Ó solidão! Solidão, meu lar!… Tua voz – ela me fala com ternura e felicidade! Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas. Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.

Ali as palavras e os tempos,poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar.“

E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, “certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa – garrafa, prato, facão – era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (…) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (…) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia".

Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: “As obras de arte são de uma solidão infinita.“ É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.

E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:

“…Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos… Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília…"

Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.

O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão…

A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos… Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.

Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.

(Correio Popular, 30/06/2002
)

domingo, 13 de junho de 2010

Sentidos.

Algumas definições são sempre mais complicadas, ainda mais quando envolvem os sentimentos.

O sentir... os sentidos.

O que é o cheiro de algo vazio?

O que é a visão da imensidão?

O que é o barulho da solidão?

O que é o pegar da água?

O que é o provar do amargo?



Layla Almeida

Dama solitária, por Denio Marx.





OH, distinta dama, que pela noite deixa somente o aroma do teu perfume , mas tua face se esconde pela sombra da lua ... dama solitária, cuja solidão desperta em mim os mais intensos desejos de conhecer-te e desvendar-te tua alma . Porque deixas que somente a lua conheça-te realmente quando sai em busca dela, caminhando ao seu lado ouvindo nada mais que a música que o vento toca ! Queria eu ser essa lua, que te olha e faz brilhar teus olhos , o vento que toca teu cabelo e a noite que amas....

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Amor fati (destino), no sentido nietzscheano !











Ah destino!


Seu irônico,

Sempre dando luz a acontecimentos racionalmente incompreensíveis, que nem sempre seguem a causalidade.


Seu forjador,
Fazendo com que as circunstâncias que cria modela o caráter dos seres. Assim descobrindo-se que nossa personalidade ficou subordinada em suas circunstâncias, concluímos que em algum tempo de nossa vida, éramos o que você queria. Assim procuremos sempre “tornar quem somos”, dito por Nietzsche “ tornar-te quem tu és”.

Seu criador,
Sempre fazendo que nossa vida seja repleta de criações por sua causa, os Deuses, a moral, a ciências, a astrologia, os conhecimentos... O que seria de nossas vidas sem você? Monótona?!

Seu imprevisível,
Fazendo-nos mudar de idéia, opinião, atitude. . . O que seria das pessoas sem você? Todas iguais?!


Seu colírio,
Aumentando nossa visão, nos mostrando a realidade. Trazendo tristeza e felicidade, arrependimento e ressentimento, divórcio e casamento, nascimentos e perecimentos...


Ah destino!

Como me ensina, a aprender a te amar, mesmo sendo subordinado a você? A querer todos os futuros acontecimentos em minha vida? A entender que a existência não tem sentido nenhum, a não ser te amar acima te tudo? A gostar da chuva e do sol? Da solidão e da companhia? Da vitoria e da derrota?

Ah destino!


Quero que me ensine a engrandecer, não querer nada de diferente do que é, nem no futuro, nem no passado, nem por toda a eternidade. Não só suportar o que é necessário, mas amá-lo.

Ah destino!


Que meu amor por você seja assim: “Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja ‘desviar o olhar’! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia apenas alguém que diz sim."

Ah destino!!!!!!!!!!!


Autor : Diêgo Florentino

segunda-feira, 7 de junho de 2010

...


Oh! Suas visões estão iluminadas.
São os colírios que pingou hoje cedo?
Patética expressão de dor fingir-se-á ser uma atriz.
Sendo apenas o abandono dos seus filhos.
Tudo bem, ele te entende, pois não gosta de contrariar.
E você nem escuta.
Aborrecidamente envolvida com aquele rapaz.
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 ...
Não adianta contar para sua paciência chegar...
Deixe de ser covarde e enfrente a mentira, estamos fartos da sua mesmice.
Cale-se, não venha ser você.

Layla Almeida

Acomodados.





Promessas falsas de mentiras imperdoáveis.
Dir-se-á incumbido de uma boa nova.
Ele chega e diz que o vinho está na mesa e que sua gravata voou.
Pobre senhor de barba rala, rouco e manco;
já não tem esperança de conviver com ela.
Pobre senhora de olhos cansados e cabelos grisalhos;
já não tem sonhos e não consegue dormir.
Todos os dias os mesmos sinais, todas as noites as mesmas dores.
Um par que não se encaixa.
E a vida faz a sua brincadeira, pois tem medo da solidão.

De alguma frieza.



Em busca de dias ensolarados, no frio me encontrei.
Sensação gélida da solidão, calculadamente dispersa.
Mas é tão prazeroso que nem procuro estar junto, pois estar só é sempre normal.
Não sei se vou ou se fico, mas sinto os olhares deles para mim,
perturbadores.
Cômico seria se fosse calmo...
Imperdoável a sua fala com tom ríspido, considera-se em qual patamar?
Perdoe-me, mas hoje não estou para suas conversinhas e seu gingado de esperteza.
Basicamente cansada. E o cansaço é básico como o preto? Ou simplesmente turvo de falta de idéias?
Disto sei, cansei-me de você.
Cansei de mim.
O que quero é o frio.
O que quero é... Não te interessa.