segunda-feira, 30 de maio de 2011



Um ano. A gente cria, cuida e não se dá conta que o tempo passa rápido.
Foi um ano louco! Tantas vezes nada tive a escrever, compartilhar que até lhe deixei de lado. Outras, numa ânsia, inquietação, inspiração maravilhosa, você recebia emoções a todo instante. Lembro do dia em que nasceu, imatura, não tinha uma definição sobre o que trataria. Nessa lapidação da vida, descobri, vi, que você seria uma caixinha de surpresas. Repleto de alegrias, medos, tristezas, amores, amizades, vida. Nem perfeito ou imperfeito. Caleidoscópico. Misterioso. Revoltado. Extasiado. Multicolorido. Mil faces. Você, "além do que se vê", foi para mim, e ainda é, uma busca no "in "- visível. Ultrapassando as certezas que achamos tê-las. É isso aí, não buscamos conformidade, queremos conflito. Não quero deixar que tudo seja resolvido. Faz bem altos e baixos. Que sejam muitos anos vindouros. Vai haver amadurecimento. Ficarão aqui guardados a evolução que pensamos ter e que podemos de fato possuir. Agradeço a quem vê e está comigo. A quem ainda não viu e deseja ver algo. E quem não deseja ver. 
Obrigado!
"além do que se vê" - Você tem sido um companheiro, amigo! 

domingo, 29 de maio de 2011

O verdadeiro romantismo, por João Roberto.


Percebo, com certa estranheza, que o que deveria ser motivo de alegrias e estímulo, graças as negativas forças humanas tem se tornando,  na verdade, causa de sofrimento. Não são raras a vezes que as pessoas se sentem em plena rota de colisão, indecisos, inertes e somente enxergando no amor pontos negativos.

Pra onde foi aquela incrível mágica que fazia com que as pessoas sentissem a plenitude ao lado de uma pessoa especial?

A sociedade, lentamente e inconscientemente, batalha para o fim dos bons sentimentos e assim os dias teimam em permanecer cinzas.

Porém, fiquemos felizes, porque isso não é uma verdade única e dominante.

Ainda existe romantismo no mundo, apesar de que ostentar essa placa cause certa desconfiança em uns e seja motivo de graça para tantos outros. Romantismo, nada mais é, do que uma forma delicada de expressar sentimentos.

Apesar da raridade, ainda é possível encontrar isso em algumas pessoas. Nas que lutam e vencem as barreiras impostas por uma realidade incansável que determina um juízo racional, imediato, condicionado e negativo sobre o amor.

Devemos ser como o romântico ideal: fiel ao coração e aliado da razão.

O verdadeiro romântico não é o “sonhador bobo”, aquele que pensava que o amor bastava em si, é alguém que possui um imaginário e que luta para que ele se torne real, mas sempre com os pés no chão. Ser adepto do Byronismo somente no papel.

Ser romântico é ter o sonho de amar e ser amado, intensamente. É não se contentar em viver um amor pelas metades ou dele sentir só um pouquinho. Ser romântico é ver no amor algo agradável.  É ter a idéia de que amar é uma qualidade inerente a poucos e o ser amado é uma dádiva.

O romântico tem sua alma rabiscada de poemas. Ele precisa ser amado por inteiro e sentir doçura no sentimento desde o nascer do verdadeiro amor, aquele baseado em uma grande amizade, até a sua consolidação.

Do que precisamos nos lembrar?  Que o verdadeiro amor existe e que o seu limite vai bem além do que podemos ver. Viver o amor é acreditar piamente nele, é respirá-lo, senti-lo da forma mais natural possível. É deixar acontecer...

sábado, 28 de maio de 2011

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“Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim.”

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"E quem pode comigo quando eu digo tudo o que sinto?"

domingo, 8 de maio de 2011

Algumas coisas que nos prendem, ou não.

E quando sinto uma absurda vontade de escrever, e fica algo engasgado na garganta, mas não saem palavras. Nada que comece a escrever é o que sinto. Há falhas inexplicáveis na minha modesta inspiração. Os últimos dias foram muito nostálgicos, e sobre eles em minha mente escreveria páginas. Mas hoje não estou bem, então deixo palavras de outro, que sucintamente soube expressar o que desejo. Faço minhas suas palavras. Ao que lhes entrego...








 Nostalgia.

Fernando Sabino, em  "O encontro Marcado".
— O que é que tem importância, então?
— Para mim? Mais nada. Para você, escrever. Fazer do seu arrependimento uma boa literatura.
— Não me arrependi ainda. Talvez ainda possa evitar…
— É impossível. O sentimento não é bem de arrependimento, é uma espécie de nostalgia — já lhe disse isso. Nostalgia daquilo que a gente não é, dos lugares onde não esteve, das coisas que não chegou a fazer… Se você não tiver isso, se um dia se sentir satisfeito, pode ter a certeza de que você não é mais escritor.
(…)
— Seria até bom, se não fosse o risco de ficar apenas com a outra espécie de nostalgia: a de tudo que a gente realmente viveu. Uma precisa da outra, para se transformar em experiência.

E assim adquirimos o que somos a cada dia. O que fui há alguns anos hoje pode parecer ridículo, contudo me construiu. Tenho saudades imensas da época de escola, do meu primeiro, segundo, terceiro amores, das tardes de não fazer nada, das fugidas de casa, do meu quarto e sua bagunça organizada. Saudade de não me preocupar ou de estar exageradamente preocupada. Daqueles que foram presentes e hoje estão ausentes. A minha, singular, vida. Posso pensar diferente amanhã, contudo, não muda o que fui e o que vivi. Desejo escrever mais e não ficar entupida de palavras aqui dentro. 

terça-feira, 3 de maio de 2011

Existe sempre uma coisa ausente.

(Camille Claudel, Carmen Silva- http://carmen--silva.blogspot.com/)

Paris — Toda vez que chego a Paris tenho um ritual particular. Depois de dormir algumas horas, dou uma espanada no rodenirterceiromundista e vou até Notre-Dame. Acendo vela, rezo, fico olhando a catedral imensa no coração do Ocidente. Sempre penso em Joana d’Arc, heroína dos meus remotos 12 anos; no caminho de Santiago de Compostela, do qual Notre-Dame é o ponto de partida — e em minha mãe, professora de História que, entre tantas coisas mais, me ensinou essa paixão pelo mundo e pelo tempo.


Sempre acontecem coisas quando vou a Notre-Dame. Certa vez, encontrei um conhecido de Porto Alegre que não via pelo menos á2o anos. Outra, chegando de uma temporada penosa numa Londres congelada e aterrorizada por bombas do IRA, na época da Guerra do Golfo, tropecei numa greve de fome de curdos no jardim em frente. Na mais bonita dessas vezes, eu estava tristíssimo. Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis, e você pode então ir tanto para Botucatu quanto para Java, Budapeste ou Maputo — nada interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”,feito Pessoa. Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.

Enrolado num capotão da Segunda Guerra, naquela tarde em Notre-Dame rezei, acendi vela, pensei coisas do passado, da fantasia e memória, depois saí a caminhar. Parei numa vitrina cheia de obras do conde Saint-Germain, me perdi pelos bulevares da le dela Cité. Então sentei num banco do Quai de Bourbon, de costas para o Sena, acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por Camilie Claudel a Rodín, em 1886. Daquela casa, dizia aplaca, Camille saíra direto para o hospício, onde permaneceu até a morte. Perdida de amor, de talento e de loucura.

Fazia frio, garoava fino sobre o Sena, daquelas garoas tão finas que mal chegam a molhar um cigarro. Copiei a frase numa agenda. E seja lá o que possa significar “ficar bem” dentro desse desconforto inseparável da condição, naquele momento justo e breve — fiquei bem. Tomei um Calvados, entrei numa galeria para ver os desenhos de Egon Schiele enquanto a frase de Camille assentava aos poucos na cabeça. Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta.

Como a vida é tecelã imprevisível, e ponto dado aqui vezenquando só vai ser arrematado lá na frente. Três anos depois fui parar em Saint-Nazaire, cidadezinha no estuário do rio Loire, fronteira sul da Bretanha. Lá, escrevi uma novela chamada Bem longe de Marienbad , homenagem mais à canção de Barbara que ao filme de Resnais. Uma tarde saí a caminhar procurando na mente uma epígrafe para o texto. Por “acaso”, fui dar na frente de um centro cultural chamado (oh!) Camille Claudel. Lembrei da agenda antiga, fui remexer papéis. E lá estava aquela frase que eu nem lembrava mais e era, sim, a epígrafe e síntese (quem sabe epitáfio, um dia) não só daquele texto, mas de todos os outros que escrevi até hoje. E do que não escrevi, mas vivi e vivo e viverei.

Pego o metrô, vou conferir. Continua lá, a placa na fachada da casa número 1 do Quai de Bourbon, no mesmo lugar. Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.

O Estado de S. Paulo, 3/4/1994